A sobrevivência depende de constância. Não se sobrevive sem alimento constante. A planta precisa de solo e sol e água. E a mente precisa de idéias. Onde encontrar idéias? Qual o combustível da mente, onde procurar - em livros, em revistas, na televisão - o alimento das boas idéias? De que matéria impalpável é feita a imaginação? É possível se inspirar no cotidiano e dissertar onze laudas sobre modos de se assentar em um ônibus? É possível ainda transpirar idéias por um pequeno orifício atrás das orelhas? Tudo, extremamente, é possível. Porque nada morre, apenas se transmuda. E dessa transmutação nasce o humano e incoerente de nós mesmos. E nos expomos.
Está aberta a temporada de caça às boas idéias. Por Marcelo Belico, às
10:31 PM.
sexta-feira, julho 22
107. visita
Minha mãe está aqui, com todas as delícias e transtornos que ela sempre traz. Passo os próximos dias bem mimado e mal acostumado.
Ainda bem que mimo de mãe para mim é em conta-gotas, senão eu seria bem piorado. Por Marcelo Belico, às
5:16 PM.
terça-feira, julho 19
106. retrato falado
Quem me vê lutando não é sabedor do meu jeito brando de falar de amor. Eu tenho uma metade de acalmar, metade lutador, no fundo eu sou um sonhador. Eu tenho uma cidade pra cantar, um peito cheio de verso e as mãos de trabalhador. Quem me vê sentindo é conhecedor do meu jeito antigo de guardar a dor. Eu tenho uma metade no meu lar, metade exterior, porque eu também sou pecador. E eu tenho a mocidade pra gastar, um grande amor pela vida e a benção do Redentor. E quem quiser me acompanhar eu cantei pra me desabafar e agora a dor já passou.
(Paulo César Pinheiro / Eduardo Gudin) Por Marcelo Belico, às
3:50 PM.
sexta-feira, julho 8
105. dia de ventania
O vento hoje assobia tanto logo ali fora que parece dizer ouçam! É frio demais para se levantar, ligar o chuveiro e sair à rua de cabelos molhados. Literalmente o que farei daqui a pouco, assim que acabar esses dois parágrafos. O vento hoje parece carente de abraços, passeia pelas ruas envolvendo todo e qualquer um, penteando as árvores e destelhando as casas por pura galhofa e descuidado. E canta. Ontem me disseram que o vento é tenor e canta "La donna é mobile". Para mim ele ainda sussura "La Bohème".
Contudo esse vento frio de julho correndo sangüíneo pelas veias/becos da cidade, por vezes desvairado, e em outras tantas manso e delicado, só me faz pensar uma coisa. O vento, como eu, é canceriano. Por Marcelo Belico, às
7:28 AM.