Ainda tratando do assunto cachorros ("mas de novo?", você pergunta. É, eu agora saio pouco e minha rotina se resume em muito a um computador e coisas breves. Há tempos eu não sabia o que era uma rodada de chope, até a semana passada). A minha cachorra mais velha tem um perfil no orkut. Tinha fotolog também mas desativaram sem me dar o motivo. Não fiz e nem vou fazer nada para a outra, ela é uma excluída digital mesmo. Mas muito interessante é que a Wendy tem o perfil com maior índice de spams entre os que acesso. Tenho alguns perfis fake no orkut (no plural), mas são tão mal-disfarçados que todo mundo sabe que o fake sou eu mesmo. Enfim.
E o tipo de spam que ela recebe é o mais incoerente possível. Toda semana se acumulam na caixa mensagens e mensagens em japonês (!), que obviamente não sei do que tratam, convites para festas de música eletrônica em São Paulo (moramos em BH/MG, eu e as cachorras), um clube paulistano insiste em colocar o nome da minha cachorra na lista Vip. E mensagens fofinhas dos outros cachorros fofinhos do orkut. Spams que ela jamais recebeu: ração, veterinário, coleira antipulga etc. A minha cachorra é mesmo baladeira da cena eletrônica contemporânea paulistana (uau), e totalmente fluente em japonês.
Aliás eu também recebo propagandas de outras cidades. Já ganhei não sei quantas aulas inaugurais de pilates e ioga, tudo em Ipanema. E, claro, as assessorias de comunicação que me acham formador de opinião nacional me convidam para espetáculos do eixo RJ-SP toda semana. Nenhum vindo de Minas para eu efetivamente ir, já não tenho como viver na ponte aérea. Daqui de BH, só mesmo os convites para vernissages e lançamentos, que acabo indo sempre que posso ou quando não está chovendo torrencialmente.
Morasse eu em SP colocaria, de propósito, o nome da Wendy em uma das listas Vip. E chegaria na porta da boate com cachorra em punho, obviamente vestindo a sua melhor produção pretinho básico, e o pedigree como documento de identidade. Só para ver se ela entraria ou não. Por Marcelo Belico, às
11:21 AM.
terça-feira, outubro 23
133. perro
Uma das coisas que me chocou esses dias foi uma mensagem que recebi, um protesto, desses de escrever abaixo-assinado, contra a participação na Bienal de Honduras de um artista nicaragüense de nome Habacuc (como o profeta), que pegou um cachorro de rua doente e pôs em uma galeria amarrado sem água ou comida. O cachorro, lógico, doente e faminto, morreu. Cenas da exposição aqui. Para quem gosta de cães são imagens fortes. Eu gosto de cães, tenho duas, já peguei uma na rua certa vez para cuidar, e ensandeci metade de uma família com essa loucura.
Porém não assinei a petição. Não que eu seja a favor de galerias de arte agora amarrarem cachorros em cordas e deixarem-nos morrer de fome e sede e doença. Eu, se estivesse na exposição - notem, há pessoas na foto -, daria um jeito de tirar o bicho de lá. Ou não, porque ele aparentemente morreu antes de abrirem a galeria à visitação. Talvez prenderia o artista com uma corda curta, de mãos atadas, para ele ver o que é bom. Sem água ou comida. Mas não, não assinei a petição.
Vou tomar um trecho de Paulo Roberto de Oliveira Reis, da sua dissertação "Exposições de arte: vanguarda e política entre os anos 1965 e 1970", copiado aqui como pano de fundo para justificar parte de minha posição: "(...) a mais contundente ação artística dentro da manifestação 'Do Corpo à Terra' foi 'Tiradentes: totem-monumento ao preso político', de Cildo Meireles. A ação ocorreu no dia 21 de abril de 1970, na área externa ao Palácio das Artes na qual encontravam-se um quadrilátero de pano e 10 galinhas vivas atadas a um poste/estaca (2,5m), encimado por um termômetro clínico. Em torno ao poste, um grupo de pessoas assistiu à queima das galinhas com gasolina. A tomada de posição política, social e ética fora dada pela mais deliberada violência e a participação do espectador, dada na comunhão coletiva do horror, espécie de teatro da crueldade. (...) Buscou-se, no horror da cena de violência da queima das aves vivas, um novo sentido crítico, mais ligado à ira do que à positividade de um projeto específico de luta".
Pois bem: estamos em Nicarágua, e eu não sei hoje o que se passa por lá. Não sei o contexto, apesar de ver certos tipos de manifestação como datadíssimas, hoje o sentido de tudo é outro. E por menos que eu concorde com isso, e por mais revoltante que seja, respeitei a posição do artista. Só espero que não vire moda. Por Marcelo Belico, às
5:09 PM.
sexta-feira, outubro 5
132. impressões
Antes de meu aniversário, perguntei a um amigo como era fazer 30 anos. Ouvi que "é a mesma coisa. Dormi e acordei do mesmo jeito". Lendo uma entrevista da Maria Rita, ela comentou que graças a Deus fez 30 anos: "Se você diz que tem 20 e poucos, não te levam a sério! Trinta anos impõe respeito". A Cristiana me disse que a pele muda muito; concordo. E a gente lembra que tem de usar creme sim, para não parecer um mendigo daqui a dez, vinte anos. Mas não compra o creme.
Para mim mudou pouco, tirando o fato que me isentei de dar maiores explicações de minhas atitudes para muita gente. Fora um plus na intolerância e na rabugice. Mas já nasci um velho rabugento, e tenho certeza de que aos 60 vou estar com tanta mania acumulada que o dia vai passar e eu ainda não vou ter terminado a rotina matinal.
Porém, já aos 30 eu posso dizer que a indústria faz de um tudo para que a gente pense que era feliz e não sabia. Agora de manhã abri um sabonete e lembrei (afinal quem compra meus sabonetes sou eu mesmo) que a barrinha mudou de 100 para 90 gramas. Passou o tempo da hiperinflação (lembro de todo mundo estocando de tudo em casa porque o preço podia aumentar a qualquer hora) e chegou o tempo da maquiagem. Do jeito que a coisa anda, vai ter um dia que as pessoas vão comprar papel higiênico avulso, embrulhado igual aqueles guardanapos do McDonald's.
Pois eu tenho 30 anos e sei o que é: papel higiênico de 40 metros, sabonete 130 gramas, chocolate em pó com 500g, caixa grande de palito de fósforo, com 300 unidades, biscoito recheado com 200g, e mais um monte de coisa. De um tempo bom que não volta, quando a preocupação era só fazer dever de casa. Por Marcelo Belico, às
11:51 AM.
terça-feira, outubro 2
131. a passagem do tempo
Nesses 18 meses eu: perdi o pai, engordei, troquei de emprego, envelheci, arranjei cachorra nova (agora são duas), passei a ter mais do que os primeiros cabelos brancos, parei de pintar os cabelos, chorei, fui ao cinema muitas vezes, joguei the sims, fundei comunidade em orkut, quebrei a câmera (e a cara), arranjei nova câmera (não digo o mesmo da cara), fiz 30 anos, perdi celular no caixa eletrônico, briguei, pedi perdão, desculpei muito e fui desculpado muito mais, entrei em academia, virei professor, viajei para o Rio (como me prometi no post 128, o que não necessariamente tenha sido bom), sumi da vista de todos e só reapareço fazendo presença vip, parei de cozinhar (continuo parado) e de chamar as pessoas para almoçar em minha casa, trabalhei mais do que acho que mereço, não ganhei tanto dinheiro com isso, e agora inventei de entrar (de novo) para a academia e perder os 25kg acima do meu peso gordo-ideal.
Então aparentemente os assuntos não faltam. O que não quer dizer que eu esteja mais ou menos propenso às coisas. Hoje por exemplo tenho uma tinta preto-azulada de cabelo no armário, daqueles shampoos tonalizantes que saem logo, e continuo com a mesma dúvida de sempre: pinto ou não pinto? Mas o medo mudou, a dúvida agora não é se pinto "de preto", e sim se não vou ficar muito ridículo aos 30 com uma cor chapada na cabeça. Até porque já ouvi que homem que pinta cabelo é péssimo. Pois é. As coisas mudam. E (re)voltam. Tanto que escrever de tempos em tempos sobre qualquer coisa voltou a me dar prazer. Bem-vindo ao blog! Por Marcelo Belico, às
1:28 PM.