Hoje saindo de casa encontrei uma rosa vermelha jogada na rua. Peguei-a e levei-a para passear na universidade. Ela hoje foi minha parceira de sala. Depois foi embora, porque as rosas vermelhas são assim mesmo, transitórias.
Mas deixou as minhas mãos perfumadas. Por Marcelo Belico, às
11:29 AM.
sexta-feira, agosto 26
112. do tempo das coisas
O player mostra que duram dezesseis minutos e trinta e quatro segundos a Raphsody in blue do George Gershwin. Dá para se fazer várias coisas nesse tempo como: pendurar roupas no varal, passar um café, tomar um bom banho, lixar as unhas, escovar os dentes, escovar o pêlo do cachorro, tomar uma cerveja com quatro amigos. Ou dá para se fazer absolutamente nada além de aproveitar o piano da música para se esquecer de que o dia lá fora acabou. Apenas escutar e deixar os preciosos dezesseis minutos e trinta e quatro segundos da rapsódia [apropriando a Calcanhotto] de uma tribo misteriosa.
E começar delicado. E se deliciar no movimento da orquestra que envolve os ouvidos com uma sonoridade tão conhecida e paradoxalmente original, uma sonoridade perfeitamente incorreta e urbana que dá vontade de grito, de noite, de lua, de automóvel, de luz. E depois dançar na rua como se ainda fosse 1950 ou algum clássico do cinema americano. Por Marcelo Belico, às
12:01 AM.
terça-feira, agosto 23
111. manicure
Parei para olhar meus pés e perceber, uma vez mais, como é imperfeita a base que me sustenta. Dedos disformes, unhas estranhas, bolhas causadas por calçados apertados. Rosados, os meus pés. Que vestem 39 mas preferem o tempo das férias em que ando descalço ou no máximo com sandálias de dedo. Ou ainda os fins de semana [jamais as terças e sextas] em que os ponho para o alto da cama e deixo-os respirar. Talvez por serem imperfeitos demais eu os guardo boa parte do tempo dentro de algum tênis ou sapato fechado. Mas são meus, tortos, mostrados apenas na hora correta.
Subi para as mãos, essas mesmas que agora uso para apertar as letras do teclado. Também imperfeitas, um pouco machucadas, uma cicatriz causada em um toboágua tempos atrás, alguns vasos mais altos, nenhuma mancha de idade ainda. Lembrei que preciso parar com a autofagia, parar de roer as unhas dos dedos das mãos e arrancar pedaços de carne. É difícil, porque até aquele esmalte amargo da Avon eu já tentei e piorou. Gostei do sabor do esmalte, tudo era desculpa para meter a mão na boca. Encostei as mãos nos meu pés [pausa para uma reprise], reapresentei-os. Agora eles vão cuidar um do outro por um tempo. Para o corpo inteiro descansar. Por Marcelo Belico, às
12:01 AM.
sexta-feira, agosto 19
110. plástica
Repaginando mais uma vez... porque o chapéu mexicano já rodou o tempo devido. Sem promessas ou compromissos. Agora as terças e sextas são os dias de aulas às sete e meia da manhã. Os dias em que acordo mais cedo e durmo mais tarde. Os dias necessários para a construção de algo que ainda não sei bem mas está lá no final, esperando.
Enquanto o final não chega escrevo. E as tiras voam... ou nadam? Por Marcelo Belico, às
3:13 PM.
sexta-feira, agosto 5
109. dizem
Sabe aqueles dias em que tudo parece dar errado e sai na contramão do planejado? Sabe quando o trabalho sobe à cabeça e um transtorno idiota acaba com o resto de bom humor que você ainda tinha? Sabe o momento que dá vontade de chegar em casa, apagar a luz e deitar na cama e não querer saber de mais nada nem ninguém? Sabe quando a melhor coisa parece ser apertar o botão de pausa no mundo e na vida para aparecer melhor, bonito e de cara boa algum tempo depois? Então... benvindo a esses dias de mim mesmo elevados à quarta potência.
Mas vai, vai dar tudo certo. Só que até lá o caminho é longo. Ai, a vida precisa de pausas. Por Marcelo Belico, às
7:23 PM.