terça-feira, agosto 31

35. ficha

Sou brasileiro, estatura abaixo da média. Peso acima do considerado padrão, mas nada que um bom regime e disciplina não resolvam. Tive muitos amores. Mantenho um círculo de amizades restritas, porém agradabilíssimas e, principalmente, fiés. Vivo dependurado em contas a pagar.

Atualmente solteiro, sem filhos. Apaixono-me e desapaixono-me com uma facilidade absurda, salvo um ou dois casos na vida que tiraram-me o prumo. Acredito em Deus. Acredito que as pessoas são boas. Gosto de trabalhar, de cozinhar, de comer, de ir ao cinema. Tenho por parceiro mais constante um travesseiro praticamente de minha idade.

Por Marcelo Belico, às 12:45 PM.




sexta-feira, agosto 27

34. rimbaud

Bal des Pendues (fragment)
Dansent, dansent les paladins,
Les maigres paladins du diable,
Les squeletts des Saladins.


Baile dos Enforcados (fragmento)
Dançam, dançam os paladinos,
Os magros paladinos do diabo,
Os esqueletos dos Saladinos.

Por Marcelo Belico, às 10:06 AM.




terça-feira, agosto 24

33. do ofício

Escolhi carreira semelhante à das prostitutas. Tenho por vocação, e por objeto profissional, fazer as pessoas felizes. Quando alguém, algum autor, sai de minha sala com os olhos brilhando pelo livro que fiz estou profissionalmente realizado. Claro que como as prostitutas a paga é ruim. Mas preciso pouco dinheiro, o suficiente para minhas contas.

Por Marcelo Belico, às 12:20 PM.




sexta-feira, agosto 20

32. peça íntima

Quando perguntado o que seria fundamental para se relacionar com alguém eu sempre insisto em uma frase: que a pessoa suporte os meus cigarros. Não cito somente a questão de alguém agüentar um fumante, seria por demais óbvio. Passa longe do tabaco a questão. Mas pelo fumo talvez eu consiga me fazer entendido. Porque fumar incomoda e é feio. Sou alguém no mínimo de péssima convivência. Saí de casa muito cedo para morar com uma tia, suas regras e suas manias, e acabei adquirindo uma seqüência de hábitos "de velho" muito mais cedo que outras pessoas. Gente costuma começar a ter mania aos 25, eu tenho nove anos de "mania anterior". Muita coisa. Durmo cedo quando estou em casa, acordo cedo apesar de odiar sair cedo de casa, lavo banheiro ouvindo Wando, tenho mau humor matinal cíclico, tenho excelente humor matinal cíclico, não páro quieto na cama, sou egoísta, não fumo dentro de casa (só no janelão), não gosto de cama desarrumada, não suporto coisa quebrada, tem dias que durmo no chão, uso roupa rasgada e cueca velha e lenço no cabelo, odeio barulho de campainha, não tolero que cheguem em minha casa sem avisar, chamo polícia para festas nas casas vizinhas depois de duas da manhã. Fora outros, esses são os meus cigarros. Meus hábitos que fedem, enfumaçam e incomodam. Porém meus, difíceis de abandonar.

O que peço a quem esteja disposto a se relacionar comigo, coisa rara e cada dia mais difícil, é um mínimo de tolerância. Será retribuída com uma tentativa razoável de convivência. Não costuma dar certo, os meus cigarros são pesados demais; penso que um meu relacionamento que durou mais tempo talvez só tenha rendido pelos mais quinhentos quilômetros de distância. Mas não costumo desistir. Ou parar de tentar, como queiram. Procuro alguém que, entre outras coisas, suporte os meus cigarros, já que ainda por cima sou dependente do tabaco.

Por Marcelo Belico, às 12:00 AM.




terça-feira, agosto 17

31. da tal carta

Coisa que fez história foi a tal carta. Todos leram a carta. Você com certeza leu a carta. Se não leu, vai ler. A carta está aí, rodando, publicada, circulando como corrente. Eu que fiz, sozinho. Ou melhor, com a ajuda de uma não-presença. A carta quase me rendeu uma surra de tacos de sinuca. A tal carta, nem duas páginas, pouco diante do escrito antes, virou de repente um elemento transformador. Como se tudo o que eu ainda precisasse fazer era simplesmente escrever uma carta. E dividir.

A carta rendeu também um presente. O texto abaixo, dos quadrinhos Strangers in Paradise, que eu não conhecia. Veio de alguém que leu a carta. E de quem gosto muito.


I Dream of You
(Terry Moore)

I don't know why but I do
Dream of you.
Losing you
I dream of you.
I don't know why but I do
Think of you.
Though we're through
I think of you.
Is it the same way for you?
Doesn't hi and goodbye sound so cruel?
How can I take my heart from you?
Even even though I'm losing you,
I still dream of you.
I dream of you.
I don't know why but you still
Give me chills.
Through your faults and pills
You still give me chills.
Is it the same way for you?
Doesn't hi and goodbye sound so cruel?
How can I take my heart from you?
When even though I'm losing you
I still dream of you.
I dream of you.


Para quem não leu a carta, ela está aqui.

Por Marcelo Belico, às 12:01 AM.




sexta-feira, agosto 13

30. palavras baixas para sentimentos amargos

Reservo-me o direito de ser mesquinho e vil enquanto a noite não começar de novo. Tirei o dia para me amargurar. Para chorar o quanto quiser a porra da vida e da solidão e da desgraça de se ser humano. Porque eu não tenho e não quero ser bonzinho o tempo todo. Eu não quero rir atôa o tempo todo. Eu não quero ser pacífico, eu não quero ser legal, eu quero que a raiva tome conta de minhas veias até que eu infarte. Ou enfarte, como queira. Eu quero passar um dia desrespeitando o português. Falar errado. Gritar quero vodka e não me encham a porra do meu saco! Hoje. Hoje eu reservo-me o direito de ser intolerante, de ser cachaceiro, de ser preconceituoso, de ser irritável. De fazer piada de veado o tanto que eu quiser.

Mas só por hoje. Só até o sol se pôr e for noite de sexta-feira treze mais uma vez. Aí ou fico dócil ou viro lobisomem.

Por Marcelo Belico, às 12:00 AM.




terça-feira, agosto 10

29. do amoroso esquecimento

Eu agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
(Mário Quintana)

Supostamente aqui caberia a história de como esses versos até mim chegaram ontem. De uma sessão de fotos, 'ciabatta', salame e pães de queijo. De dois litros de 'guaraná diet' em meia hora. De aulas de 'web'. Mas já que aconteceu assim, do acaso, para quê escancarar a intimidade? Justo em um lugar, supostamente tão hermético, mas que, por minha absoluta falta de jeito, sinto-me sempre autodevassado? Então sem cotidianidades. Só publicarei que ganhei os versos de uma amiga. Daquelas, das boas. Em momento não-previsto.

Versos não-previstos amarrados com laço de fita, de uma amiga para um amigo. Tão sinceros quanto reais quanto comuns. Atualmente tenho tentado chegar meus sentimentos aos senso-comum, aquele mesmo outrora tão jogado ao léu nas aulas de Lógica do Pensamento Científico. Partilhar aquilo que sinto até torná-lo banal. Acho uma troca justa entre eu e o mundo. Ganho algo e devolvo a todos, partilho. Até tudo se tornar insignificantemente simples. Sem nunca deixar de ser humano.

Por Marcelo Belico, às 8:48 AM.




sexta-feira, agosto 6

28. preciso de um filho

Para exercer o amor incondicionalmente. Para me enlouquecer e deixar noites sem dormir. Para eu dar colo. Para pedir colo. Para carregar até a roda gigante, para levar para a escola. Para ter uma voz esganiçada quando volta do colégio. Para passar merthiolate no joelho ralado. Para me abraçar. Para me xingar que eu sou careta e é um absurdo eu ter namorados. Para me preocupar e dar cabelos brancos. Para a minha mãe estragar. Para eu preparar sopa quando ficar doente.

Para não ter sossego nunca mais na vida. Para eu pensar duas vezes antes de levantar a mão. Para ensinar como é que se pula de ponta na piscina. Para ficar bravo (e sorrir escondido) quando falar um palavrão. Para eu comprar pijamas de ursinhos. Para ser tão, mas tão diferente de mim, que eu vou pensar que eu talvez tenha tentado fazer alguém feliz.

Por Marcelo Belico, às 9:14 AM.




terça-feira, agosto 3

27. gesso

É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indivisível emoção
É claro que te acho linda
E em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que sou triste...

(Vinícius de Moraes)

Tenho medo da citação acima. Ela chegou para mim um dia, uma vez em que me senti pela primeira vez em estado de graça. E com a sua tristeza perfeita conseguiu partir-me os braços... e costumo temer também as pessoas que me deixam um tempo engessado. Psicologicamente engessado, pernas, braços quebrados. Normalmente porque invariavelmente me encanto, e apaixono, e amo essas pessoas. Nessa ordem. E isso assusta, fere, muda o comportamento; e entristece. Tristesse, lembra o instante que passou? Já há tempos abandonamos o primeiro estágio.

Por Marcelo Belico, às 10:05 AM.





Marcelo Belico
mercado de pulgas

Arquivos
maio 2004
junho 2004
julho 2004
agosto 2004
setembro 2004
outubro 2004
novembro 2004
dezembro 2004
janeiro 2005
fevereiro 2005
março 2005
abril 2005
maio 2005
junho 2005
julho 2005
agosto 2005
setembro 2005
outubro 2005
novembro 2005
dezembro 2005
janeiro 2006
fevereiro 2006
março 2006
setembro 2007
outubro 2007


Powered by BLOGGER
Commented by YACCS


Site Meter