Fiz o texto abaixo para mandar para amigos por e-mail. Gostei tanto que posto aqui, agora. Chama-se "Tempo Livre. Notas de quem jogou uma vez".
E então que instalei o Free Time. Como já tinha reinstalado todo o jogo, ando com poucos personagens. Nem coloquei ainda a Bela Vista para rodar, a maior parte do que tenho vai ter de ser refeita, porque mantive os personagens mas não as suas casas. Tudo novo mesmo, ainda como parte da idéia de trabalhar meus sims enquanto adolescentes.
Exceção para a Gilda, que eu havia exportado o lote para mandar para a TV Sims e utilizei o mesmo. Aliás no jogo, efetivamente, só tenho agora a Tomiko e a Gilda, fora os personagens que já vêm na vizinhança. E isso em Estranhópolis, que é a minha vila "paralela", onde fotografo para concursos e faço testes, por exemplo. A minha mega vizinhança não começou ainda, não tem centro de cidade nem vila água azul.
Mas então decidi conhecer o Free Time, e mudei a Gilda do estúdio para uma casa. Com quarto, banheiro, essas coisas que estúdio não tem. Até resolvi que ela vai morar lá em definitivo, e estou decorando tudo aos poucos. Só que a Gilda me surpreendeu.
Para começar, o hobby. Enquanto Tomiko gosta de música, a Gilda tem entusiasmo por condicionamento físico. Eu esperava algo na linha "literatura" ou "artes", por conta da profissão dela. Mas não. Gilda quer é malhar. Não pára aí: ela como desejo de toda a vida ter 20 amizades especiais com animais... No momento adotou dois cães grandes, e a cadela já está esperando bebê. Claro que vai doar tudo depois, mas vamos tentar bater a meta.
Ah, sim: Gilda é mãe. Como assim? Alguém foi ligar para o serviço de adoção. E não sabendo a diferença entre "adoção" e "adoção de animais"... Agora tem um menino loiro meio feinho que acho que chama João Felipe. Já veio com o nome composto, o nome achei bem legal. E o filho tem como hobby Esporte.
Hoje fui me reler, e descobri que tudo isso aqui uma grande farsa pretensamente inteligente muito bem concatenada. [Acessada por amigos que aparecem para matar saudades, ou gente nova, ou pessoas que descobrem esse link por acidente ou sorte].
Mas relendo muita coisa eu dividiria esse blog em 'continuo assim' e 'não penso mais nada disso'. De qualquer modo é divertido ter acesso à memória antiga, assim como sempre poder reinventar [...]
Ainda tratando do assunto cachorros ("mas de novo?", você pergunta. É, eu agora saio pouco e minha rotina se resume em muito a um computador e coisas breves. Há tempos eu não sabia o que era uma rodada de chope, até a semana passada). A minha cachorra mais velha tem um perfil no orkut. Tinha fotolog também mas desativaram sem me dar o motivo. Não fiz e nem vou fazer nada para a outra, ela é uma excluída digital mesmo. Mas muito interessante é que a Wendy tem o perfil com maior índice de spams entre os que acesso. Tenho alguns perfis fake no orkut (no plural), mas são tão mal-disfarçados que todo mundo sabe que o fake sou eu mesmo. Enfim.
E o tipo de spam que ela recebe é o mais incoerente possível. Toda semana se acumulam na caixa mensagens e mensagens em japonês (!), que obviamente não sei do que tratam, convites para festas de música eletrônica em São Paulo (moramos em BH/MG, eu e as cachorras), um clube paulistano insiste em colocar o nome da minha cachorra na lista Vip. E mensagens fofinhas dos outros cachorros fofinhos do orkut. Spams que ela jamais recebeu: ração, veterinário, coleira antipulga etc. A minha cachorra é mesmo baladeira da cena eletrônica contemporânea paulistana (uau), e totalmente fluente em japonês.
Aliás eu também recebo propagandas de outras cidades. Já ganhei não sei quantas aulas inaugurais de pilates e ioga, tudo em Ipanema. E, claro, as assessorias de comunicação que me acham formador de opinião nacional me convidam para espetáculos do eixo RJ-SP toda semana. Nenhum vindo de Minas para eu efetivamente ir, já não tenho como viver na ponte aérea. Daqui de BH, só mesmo os convites para vernissages e lançamentos, que acabo indo sempre que posso ou quando não está chovendo torrencialmente.
Morasse eu em SP colocaria, de propósito, o nome da Wendy em uma das listas Vip. E chegaria na porta da boate com cachorra em punho, obviamente vestindo a sua melhor produção pretinho básico, e o pedigree como documento de identidade. Só para ver se ela entraria ou não. Por Marcelo Belico, às
11:21 AM.
terça-feira, outubro 23
133. perro
Uma das coisas que me chocou esses dias foi uma mensagem que recebi, um protesto, desses de escrever abaixo-assinado, contra a participação na Bienal de Honduras de um artista nicaragüense de nome Habacuc (como o profeta), que pegou um cachorro de rua doente e pôs em uma galeria amarrado sem água ou comida. O cachorro, lógico, doente e faminto, morreu. Cenas da exposição aqui. Para quem gosta de cães são imagens fortes. Eu gosto de cães, tenho duas, já peguei uma na rua certa vez para cuidar, e ensandeci metade de uma família com essa loucura.
Porém não assinei a petição. Não que eu seja a favor de galerias de arte agora amarrarem cachorros em cordas e deixarem-nos morrer de fome e sede e doença. Eu, se estivesse na exposição - notem, há pessoas na foto -, daria um jeito de tirar o bicho de lá. Ou não, porque ele aparentemente morreu antes de abrirem a galeria à visitação. Talvez prenderia o artista com uma corda curta, de mãos atadas, para ele ver o que é bom. Sem água ou comida. Mas não, não assinei a petição.
Vou tomar um trecho de Paulo Roberto de Oliveira Reis, da sua dissertação "Exposições de arte: vanguarda e política entre os anos 1965 e 1970", copiado aqui como pano de fundo para justificar parte de minha posição: "(...) a mais contundente ação artística dentro da manifestação 'Do Corpo à Terra' foi 'Tiradentes: totem-monumento ao preso político', de Cildo Meireles. A ação ocorreu no dia 21 de abril de 1970, na área externa ao Palácio das Artes na qual encontravam-se um quadrilátero de pano e 10 galinhas vivas atadas a um poste/estaca (2,5m), encimado por um termômetro clínico. Em torno ao poste, um grupo de pessoas assistiu à queima das galinhas com gasolina. A tomada de posição política, social e ética fora dada pela mais deliberada violência e a participação do espectador, dada na comunhão coletiva do horror, espécie de teatro da crueldade. (...) Buscou-se, no horror da cena de violência da queima das aves vivas, um novo sentido crítico, mais ligado à ira do que à positividade de um projeto específico de luta".
Pois bem: estamos em Nicarágua, e eu não sei hoje o que se passa por lá. Não sei o contexto, apesar de ver certos tipos de manifestação como datadíssimas, hoje o sentido de tudo é outro. E por menos que eu concorde com isso, e por mais revoltante que seja, respeitei a posição do artista. Só espero que não vire moda. Por Marcelo Belico, às
5:09 PM.
sexta-feira, outubro 5
132. impressões
Antes de meu aniversário, perguntei a um amigo como era fazer 30 anos. Ouvi que "é a mesma coisa. Dormi e acordei do mesmo jeito". Lendo uma entrevista da Maria Rita, ela comentou que graças a Deus fez 30 anos: "Se você diz que tem 20 e poucos, não te levam a sério! Trinta anos impõe respeito". A Cristiana me disse que a pele muda muito; concordo. E a gente lembra que tem de usar creme sim, para não parecer um mendigo daqui a dez, vinte anos. Mas não compra o creme.
Para mim mudou pouco, tirando o fato que me isentei de dar maiores explicações de minhas atitudes para muita gente. Fora um plus na intolerância e na rabugice. Mas já nasci um velho rabugento, e tenho certeza de que aos 60 vou estar com tanta mania acumulada que o dia vai passar e eu ainda não vou ter terminado a rotina matinal.
Porém, já aos 30 eu posso dizer que a indústria faz de um tudo para que a gente pense que era feliz e não sabia. Agora de manhã abri um sabonete e lembrei (afinal quem compra meus sabonetes sou eu mesmo) que a barrinha mudou de 100 para 90 gramas. Passou o tempo da hiperinflação (lembro de todo mundo estocando de tudo em casa porque o preço podia aumentar a qualquer hora) e chegou o tempo da maquiagem. Do jeito que a coisa anda, vai ter um dia que as pessoas vão comprar papel higiênico avulso, embrulhado igual aqueles guardanapos do McDonald's.
Pois eu tenho 30 anos e sei o que é: papel higiênico de 40 metros, sabonete 130 gramas, chocolate em pó com 500g, caixa grande de palito de fósforo, com 300 unidades, biscoito recheado com 200g, e mais um monte de coisa. De um tempo bom que não volta, quando a preocupação era só fazer dever de casa. Por Marcelo Belico, às
11:51 AM.
terça-feira, outubro 2
131. a passagem do tempo
Nesses 18 meses eu: perdi o pai, engordei, troquei de emprego, envelheci, arranjei cachorra nova (agora são duas), passei a ter mais do que os primeiros cabelos brancos, parei de pintar os cabelos, chorei, fui ao cinema muitas vezes, joguei the sims, fundei comunidade em orkut, quebrei a câmera (e a cara), arranjei nova câmera (não digo o mesmo da cara), fiz 30 anos, perdi celular no caixa eletrônico, briguei, pedi perdão, desculpei muito e fui desculpado muito mais, entrei em academia, virei professor, viajei para o Rio (como me prometi no post 128, o que não necessariamente tenha sido bom), sumi da vista de todos e só reapareço fazendo presença vip, parei de cozinhar (continuo parado) e de chamar as pessoas para almoçar em minha casa, trabalhei mais do que acho que mereço, não ganhei tanto dinheiro com isso, e agora inventei de entrar (de novo) para a academia e perder os 25kg acima do meu peso gordo-ideal.
Então aparentemente os assuntos não faltam. O que não quer dizer que eu esteja mais ou menos propenso às coisas. Hoje por exemplo tenho uma tinta preto-azulada de cabelo no armário, daqueles shampoos tonalizantes que saem logo, e continuo com a mesma dúvida de sempre: pinto ou não pinto? Mas o medo mudou, a dúvida agora não é se pinto "de preto", e sim se não vou ficar muito ridículo aos 30 com uma cor chapada na cabeça. Até porque já ouvi que homem que pinta cabelo é péssimo. Pois é. As coisas mudam. E (re)voltam. Tanto que escrever de tempos em tempos sobre qualquer coisa voltou a me dar prazer. Bem-vindo ao blog! Por Marcelo Belico, às
1:28 PM.
sexta-feira, setembro 28
130. e de novo a volta
O texto anterior data de março de 2006. Estamos em setembro de 2007, portanto, pelas contas, 18 meses depois. Pelo resumo semanal que recebo, esse blog continua mantendo uma freqüência periódica de cerca de 35 acessos esparsos. Ou seja, alguém ainda vem cá. [...]
Não, eu não vou me forçar a escrever mas pretendo retomar a rotina de deixar escritos e impressões. Às terças e sextas-feiras, como de hábito. Também pensei se era hora de mudar a cara, foram 18 meses de hiato mas achei melhor não. A cara é a mesma, os textos outros. Ainda numerados. Ainda curtos. Ainda impressões. Por Marcelo Belico, às
12:00 PM.